Ministério do Turismo e Instituto Unimed-BH apresentam
No dia 14 de julho, o Festejo do Tambor Mineiro, idealizado pelo músico, cantor e compositor Maurício Tizumba, faz sua estreia nas ruas do Prado com dezenove atrações, entre elas, Ricardo Aleixo, Cia Seraquê, Família Alcântara e Titane. O evento marca a formatura da turma do curso Tambor Mineiro, ministrada na associação homônima. Fernando Meireles leva aos cinemas Cidade de Deus. O filme, baseado na obra do escritor negro e morador da favela carioca, Paulo Lins, torna-se um dos maiores fenômenos do cinema nacional. Trovão das Minas, Guarda de Congo Feminina do Bairro Aparecida e Bloco Oficina Tambolelê apresentam-se no Festejo, feito que repetiriam em todas as edições subsequentes.
No primeiro ano do governo Lula é criada a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; Joaquim Barbosa é nomeado o primeiro negro ministro do Supremo Tribunal Federal; e é sancionada a lei que inclui no currículo oficial das escolas a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. O segundo Festejo do Tambor Mineiro tem entre seus convidados o Candombe da Serra do Cipó, Alexandre Cardoso e tambores do Berimbrown, Banda de Congo Mirim do Espírito Santo, Groove das Ruas e Explosão de Elite da Mangueira, que colore a festa de verde e rosa. A Spasso Escola de Circo faz sua estreia no evento e também passa a fazer permanentemente parte da programação.
O cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo recebe o prêmio de melhor diretor no Festival de Cinema de Gramado pelo filme As filhas do vento. O filme traz nos papéis principais um elenco negro formado por Milton Gonçalves, Taís Araújo, Thalma de Freitas, Ruth de Souza e Léa Garcia. Joel foi o documentarista de A negação do Brasil, que, no ano de 2000, trouxe à tona a história das lutas dos atores negros pelo reconhecimento de sua importância na história da telenovela brasileira. O ano foi marcado pela morte do religioso Beyers Naudé, reconhecido lutador contra o apartheid e promotor da reconciliação na África do Sul. O Festejo do Tambor Mineiro não é realizado porque Maurício Tizumba está envolvido com as apresentações de A turma do Pererê, um dos maiores sucessos do teatro infantil brasileiro.
Milton Nascimento, Maurício Tizumba, Grupo Tambolelê e três guardas de congado abrem, no palco do Palácio das Artes, a terceira edição do Festejo. É lançada a programação do TIM Mov Perc – Movimento de Valorização dos Tambores Mineiros que, idealizado por Tizumba e pelo Tambolelê, percorre onze cidades mineiras com espetáculos e oficinas. MV Bill, Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares lançam o livro Cabeça de Porco. No capítulo intitulado “O pior sentimento que alguém pode ter” o rapper faz um relato sobre ser vítima de racismo. Cerca de 10 mil pessoas se reúnem nas ruas do Prado para prestigiar um Festejo com conexões internacionais, com apresentações do grupo de tambor japonês Rio Nikkei Taiko e do Candombe do Uruguai. O projeto passa a contar com a gestão e produção da Napele Produções Artísticas.
Salvador converte-se em extensão do continente africano na 2ª Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora, encontro que reuniu pensadores e representantes da sociedade civil para discutir temas de interesse da África e dos afro-descendentes. O Festejo, que até então ocorria em julho, passa a ser realizado em agosto. É incluído um dia a mais na programação do evento para ser realizado, na Funarte Casa do Conde, o Festival de Samba, com participação de Vander Lee, Bantuquerê, Celso Adolfo, entre outros. No Prado, o Festejo é ampliado para dois quarteirões e fazem sucesso as barracas de penteados afro e de pratos típicos africanos. A Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo produz o documentário Objetivos do milênio sem o racismo.
É lançado o livro Mulheres negras do Brasil, de Schuma Schumaher, com biografias, perfis e mais de 950 imagens apresentando a trajetória desse grupo duplamente excluído. Índios Pataxós vêm diretamente do norte de Minas para mostrar sua cultura no Festejo. A quinta edição também é marcada pela presença da Guarda de Moçambique Treze de Maio, pelos cariocas da Cia Brasil Mestiço e pela sempre participante Irmandade Os Ciríacos e Banda Dançante do Rosário de Santa Efigênia. Em pesquisa do Centro Internacional de Pobreza, braço do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, constata-se que a renda dos brasileiros de cor preta e parda praticamente não se alterou nos últimos trinta anos.
Estendida, a programação de shows e oficinas do Festejo dura uma semana e reúne cerca de trinta guardas de congado e quinze grupos de percussão. Como parte das atrações, os shows de Siri e de Maurício Tizumba e Trio são apresentados no Sesiminas. Barack Obama é eleito o primeiro negro presidente dos Estados Unidos e Lewis Hamilton torna-se o primeiro negro campeão da Fórmula 1. Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revela que a igualdade entre brancos e negros no país só será concretizada em cinco décadas. Fazem sucesso as oficinas ministradas pela compositora e baterista Vera Figueiredo, pelo baterista e percussionista Robertinho Silva, e pelo multi-instrumentista Paulo Santos, um dos criadores do Grupo Uakti. No evento de rua, Elza Soares comparece como público e emociona integrantes das guardas e organizadores.
Sérgio Pererê, que já participava do Festejo com o Grupo Tambolelê, faz pela primeira vez no evento seu show solo. A ONU institui o dia 18 de julho, data em que se comemora o nascimento do líder sul-africano, como Dia Internacional Nelson Mandela e a Disney lança seu primeiro filme com uma protagonista negra. A Guarda de Vilão Santa Efigênia e a Guarda de Moçambique Velho Africano são destaques do Festejo. Neusa Teixeira comemora sete edições como o tempero de maior sucesso entre os congadeiros. É o mesmo número de vezes que Os Carolinos contabilizam a participação no evento. Com o texto A coisa ficou afrodescendente para o humor negro, Hélio de La Peña critica piada racista feita por Danilo Gentili.
O Ano Nacional Joaquim Nabuco no Brasil, em homenagem ao abolicionista, é também o ano da Copa do Mundo da África do Sul. No Festejo, apresenta-se o senegalês Zal Idrissa Sissokho. O músico faz parte da linhagem dos Sissokho, homens que transmitem, de geração a geração, a história do povo Mandinga. Chico César, Tom Nascimento e Pereira da Viola também fazem show na festa. O cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine, declara que o terremoto que destruiu o país é culpa da presença do Vodu, um culto de matriz africana extremamente forte na região. O culto a Nossa Senhora do Rosário ganha força no 8º Festejo com a presença de diversas guardas, entre elas o Corte de Congo Catupé Estrela do Oriente, a Guarda de São Jorge de Nossa Senhora do Rosário e a Guarda de Moçambique de Nossa Senhora das Mercês.
Da Argentina, o grupo percussivo No Chilla desembarca com seus tambores no Festejo. A cultura hip-hop também participa da festa na voz de Zaika dos Santos. Morre Abdias do Nascimento, um dos mais importantes ativistas do movimento negro. A Miss Angola, Leila Lopes, é eleita Miss Universo durante a 60ª edição do evento, realizada em São Paulo. Mais de uma tonelada de alimentos, destinados a festas de congado de Belo Horizonte, é arrecadada no Festejo. Um comercial da Caixa Econômica Federal tem sua veiculação suspensa por retratar o mulato Machado de Assis como um branco. Entre as guardas que participam do Festejo estão a Guarda de Congo de São Benedito, Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo e a Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e São José.
O Supremo Tribunal Federal aprova, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais em universidades públicas. Edimara Gonçalves Soares torna-se a primeira doutora quilombola do Brasil. Os dez anos de Festejo são comemorados com ações em três eixos, Festejo – Encontros, no qual é abrigado as ações de apoio às festas de guardas de congado; Festejo – Difusão, com produção de vídeo, campanhas afirmativas e disponibilização de artigos no site; e Festejo – Festival, a tradicional festa nas ruas do Prado. Maurício Tizumba e Tambor Mineiro apresentam-se ao lado da diva Elza Soares. Marco Lobo também participa da festa. Entre jovens, idosos, católicos, evangélicos, mulheres e homens, muitas vozes anunciam: Eu Sou Congadeiro.
Realizado na faculdade de Direito da UFMG, um trote racista e de incitação ao nazismo ganha repercussão nacional [no ano seguinte, um aluno viria a ser expulso e outros três afastados por um semestre, após inquérito interno da instituição]. Mesmo sem projetos aprovados em editais públicos e, assim, com menos recursos que em edições anteriores, o 11ª edição do Festejo mantém a festa, reunindo nove guardas de Congado e milhares de pessoas nas ruas do Prado. Da Argentina vem o grupo de percussão No Chilla (em sua terceira participação) e, da Alemanha, o grupo Encontro a apresentar seu “maracatu e samba reggae de Mühldorf”. Belo Horizonte recebe a Mostra Benjamin de Oliveira, de espetáculos de teatro, dança e circo. Sucesso de público e de crítica, a mostra é uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil.
O Festejo abre a roda tindolelê para Pereira da Viola e se encanta pelo afoxé do Bandarerê. Os rolezinhos abalam a elite branca dos shoppings centers e mostram uma juventude negra sem medo de ocupar os espaços que lhes foram proibidos. O racismo invade os campos e atinge Tinga e diversos outros jogadores brasileiros no país e no mundo. A ONU apresenta relatório em que afirma que “o racismo é um problema estrutural e institucional do país”. No Prado, 11 guardas de reinado/congado louvam Nossa Senhora do Rosário, os santos do panteão congadeiro, as nações africanas e os antepassados.
Taís Araújo e Maria Julia Coutinho entram para o rol das famosas vítimas de racismo. Sem patrocínios ou apoios, o Festejo do Tambor Mineiro, após oito anos de realização initerrupta, não é realizado. O estado e os reinos negros se despedem da Rainha Conga de Minas Gerais e matriarca das Guardas de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário, Dona Isabel Cassimira das Dores.
Entidades e nomes do movimento negro no Brasil lançam o manifesto “Negras e Negros contra o retrocesso. O Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos é extinto. O Festejo segue celebrando a cultura congadeira e Nossa Senhora do Rosário, que há séculos ampara as dores do povo negro brasileiro, e recebe em seu palco nomes como Flávio Renegado, os Passistas Dancy e Mirim, do projeto Lá da Favelinha, e Paulo Santos. A jovem negra Áurea Carolina, da movimentação Muitas, é eleita como a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte.
Ataques racistas nas redes sociais a celebridades negras, como Taís Araújo, Titi e Emicida, ganham os noticiários. O âncora do Jornal da Gobo, William Waack é demitido após vazamento de comentário racista. O Atlas da Violência 2017 revela que de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. As três guardas e irmandades do Bairro Aparecida – Guarda de Congo Feminino do Aparecida, Guarda do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito e Os Carolinos -, ao lado de Sérgio Pererê, lançam o álbum Aparecida: Reinos Negros. Por falta de recursos, o Festejo do Tambor Mineiro não é realizado.